terça-feira, 17 de julho de 2012

Gatos de hotel

Mamãe, assim que casou (e teve que assumir uma casa e todas as implicações disso: cozinhar, lavar, passar), sugeriu para meu pai:

- Bem que a gente poderia morar em um hotel...

Mãe, em mais uma temporada morando em hotel, posso lhe assegurar: viver em hotel não é vida mansa, como se pensa.

Apesar de acordarmos com o café no ponto, voltarmos do trabalho e encontrar o quarto arrumado, nada se compara a uma casinha com suas rotinas diárias.

Uma suíte e uma pequena varanda é o espaço que temos para dividir e alojarmos as malas, os livros, os móveis... Até para estender as calçinhas tenho que improvisar um lugar.

Às vezes cansa essa vida de hotel. Eu e Lívio ficamos nos revezando entre a cama e a única cadeira. E agora, pra completar, queimou a luz do quarto, o que tornou nossas distrações ainda mais limitadas. A possibilidade de escrever é que me salva, pois posso fazê-lo mesmo no escuro, em qualquer circunstância.

Mas a vida no hotel também reserva alguns aprendizados, algumas vivências importantes.

Por exemplo, aqui não tem espaço para cara feia. Tenho que conviver em harmonia com o marido, afinal só temos um cômodo, não tem como virarmos as costas, é tela com tela o tempo inteiro (tela linda a dele, graças a Deus!).

Também muitas são as novidades. Tantos viajantes, cada um com uma história mais fantástica. Mentiras, verdades... Até adeptos de balonismo e representantes de revistas de aventura já se hospedaram por aqui. E nós só absorvendo...

Nossos vizinhos não são os mesmos, mas os que ficam por mais tempo acabam se tornando amigos e as paredes passam a ter ouvidos e bocas, pois são através delas que nos comunicamos.

Por mais difícil que, às vezes, pareça não ter um cantinho pra chamar de seu, não ter uma mesa pra compartilhar com os familiares e amigos, nem um endereço certo pra receber encomendas... Sei o quanto tem sido importante essa experiência, pois quando vivemos em um mundo tão pequeno somos obrigados a ampliar o nosso próprio horizonte e contemplar o que se mostra adiante...

E nós vamos deixando as manias que as regalias do “lar doce lar” nos oferecem e descobrindo nossos limites e a nossa resistência...

Creio que é apenas um tempo. Não sei do nosso futuro, apenas que carregaremos essas vivências em nossas malas para sempre.

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