terça-feira, 28 de agosto de 2012

Só Jesus na causa...

Certa vez, estávamos no trânsito, quando começou uma chuva torrencial.

Depois de nos desviar dos caminhos mais alagados e, finalmente, chegarmos a nossa casa, da varanda, pudemos observar uma mulher dentro do carro, no prego, no meio do aguaçal.

Não tínhamos como ajudá-la, pois a água era alta e a correnteza forte, mas sofri ao vê-la ali tão vulnerável, enquanto eu estava na segurança do meu lar.

Fiz uma oração em seu favor, mas fiquei receosa de que essa atitude fosse apenas uma forma de lavar as mãos sem peso ou culpa.

Graças a Deus, ela conseguiu ‘sozinha’ sair daquele sufoco e pode prosseguir a viagem.

Deus nos conclama a ajudar as pessoas indistintamente. É nosso papel estendermos as mãos, arregaçarmos as mangas para trabalhar por quem precisa.

Amar é exatamente isso: estar com o outro em todos os momentos, ainda que isso implique sair da zona de conforto; viver com ele todas as emoções, seja chorando, seja sorrindo.

Jesus mesmo nos diz que quando prestamos assistência a um necessitado é como se
estivéssemos fazendo ao próprio Cristo.

Há algumas circunstâncias, porém, que só podem ser alteradas pelo Todo-Poderoso.

Entregamos o impossível a Deus e Ele nos dá a convicção de que o que é impossível se faz.
...

Alguém me disse que é um ser sem esperança, vagando em um mundo hostil e eu senti muito, principalmente porque não tenho as palavras certas, nem o olhar, nem o carinho que ele precisa para ser liberto dessa angústia.

Fico na dúvida quanto a ser dura ou dócil, se acalento ou se exijo uma reação.

Na verdade, percebo que sou débil e impotente demais.

Sofro por me ver inútil, até que vem ao meu encontro um texto que me consola:

“Presta-nos auxílio na angústia, pois vão é o socorro do homem. Em Deus faremos proezas [...]” Sl 108.12
PV 10.22
Posso ser uma boa companhia, levar belas palavras, abraçar, honrar o próximo, ser até um instrumento útil, mas a cura da alma só se completa quando o Médico dos médicos intervém. É Ele quem nos socorre nos dias maus.

Quando Jonas estava no fundo do mar, nas entranhas daquele enorme peixe, só Deus era capaz de livrá-lo. Ninguém podia imaginar que no imenso oceano um homem jazia dentro da barriga de um peixe. Por mais que imaginasse, seria impossível descobrir dentre a infinidade de espécimes marinhas qual e onde estaria afinal o peixe comilão. Ainda que o encontrasse, muito difícil seria a captura do grandalhão e a minuciosa cirurgia para libertar um homem e pô-lo a salvo.

Não existia ninguém que desse jeito. Jonas sabia disso. Por isso resolveu clamar ao único que poderia salvá-lo.

“Em meu desespero clamei ao Senhor, e ele me respondeu. Do ventre da morte gritei por socorro, e ouviste o meu clamor”. Jonas 2:2

Quando a situação está realmente difícil e não podemos contribuir com simples atitudes, peçamos a Deus que intervenha e salve. Isso não é um estímulo ao descaso com o próximo, mas o reconhecimento de que quem trará o livramento ao final é o Senhor, pois não somos "super-mulheres" ou "super-homens”.

Para concluir, deixo as palavras do poeta indiano Tagore (citado por Brennan Maning, p. 203):

Não, não cabe a você abrir os botões em flor.
Sacuda o botão, golpeie,
Está além do seu alcance fazê-lo desabrochar.
Seu toque o estraga.
Você arranca as pétalas em pedaços
E asperge-as ao chão,
Mas nenhuma cor surge e nenhum perfume.
Ah! Não cabe a você abrir os botões da flor.
Ele que é capaz de abrir o botão o faz tão singelamente.
Ele apenas olha e a seiva da vida se movimenta em suas veias.
Ao seu hálito a flor estende suas asas
E tremula ao vento
As cores lampejam como um anseio do coração,
E o perfume delata um doce segredo.
Ele que é capaz de abrir o botão o faz tão singelamente.

Deus nos ajude!

sábado, 25 de agosto de 2012

Carentes

Há alguns anos, ao visitar um orfanato, surpreendi-me com a reação de um dos bebês que estavam à espera de adoção.

Ele era cego e, ao sentir nossa presença quente perto do berço, estendeu as mãos para que pudéssemos segurá-las.

Ficamos por alguns minutos acariciando suas mãozinhas, enquanto elas nos tateavam.

Quanto acabou nosso tempo ali e tivemos que nos separar, o bebê iniciou um choro sofrido.

Aquela experiência me marcou para sempre. Até então, nunca pensara que um bebê (de poucos meses) sentisse tanta carência.

Ele não sabia falar, nem tinha os pensamentos bem elaborados, mas desejava um colo que o acolhesse, um olhar que o cativasse, como se soubesse que todo ser humano tem a necessidade básica de amar e ser amado.

...

Em proporções diferentes, todo mundo já se sentiu desamparado, menos amado, rejeitado, colocado de canto...

Você era o único a receber as atenções e, de repente, um chorinho estranho conseguiu cativar a todos e ocupar o lugar de caçulinha do lar.

Também os adultos se sentem assim.

Você tinha um relacionamento promissor até se ver abandonada, com uma sensação de que tudo aquilo que viveu foi um mentira, um conto de fadas que nunca existiu.

Eu não sei a sua história, nem o porquê de sua solidão. Talvez, você seja uma órfã que cresceu, ou uma viúva de marido vivo, amiga de seres imaginários, portadora da síndrome do ninho vazio, estrangeira longe do lar, noiva cadáver....

As circunstâncias fazem com que você viva tentando provar que tem algum valor e que merece ser amada, mas parece que quanto mais se empenha nisso, mais se vê aflita, desamparada.

Nisso muitos entregam seus corpos a relações tresloucadas, destituídas de qualquer afetividade, ou acabam se envolvendo com álcool e outras drogas, crentes de que o entorpecimento lhes livrará da dor.

Hoje você age com desconfiança diante de tudo e de todos. Talvez isso lhe afaste até de quem está realmente disposto a lhe estender a mão. Porque pelo menos uma pessoa está com as mãos estendidas: Jesus.

A mensagem da cruz traduz exatamente isso: aceitação.

Deus observou ‘inerte’ aos acoites, contemplou o sofrimento e a morte de seu filho naquele maldito madeiro, porque nos queria de volta, purificados e livres para nos relacionar com ele perfeitamente.

Ele pagou o preço, nos amou de maneira extraordinária. Não precisamos fazer nada para que Ele nos ame, pois o amor dele é incondicional, capaz de restaurar vidas solitárias e habitar nas almas mais desertas.

“Pai para os órfãos e defensor das viúvas é Deus em sua santa habitação. Deus dá um lar aos solitários, liberta os presos para a prosperidade [...]” Salmos 68:5-6

“Quem é como o Senhor, o nosso Deus, que reina em seu trono nas alturas, mas se inclina para contemplar o que acontece nos céus e na terra?

Ele levanta do pó o necessitado e ergue do lixo o pobre, para fazê-los sentar-se com príncipes, com os príncipes do seu povo.

Dá um lar à estéril, e dela faz uma feliz mãe de filhos. Aleluia!" Salmos 113:5-9

Renda-se a esta verdade: Jesus ama você!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Sobre o perdão

Conta-se que uma mulher apareceu em uma cidade, dizendo que constantemente encontrava-se com Jesus e ficava conversando com Ele por horas.

Um reverendo, curioso com a história, chamou-a e lhe fez um pedido:

- Da próxima vez que a senhora se encontrar com Jesus, pergunte a Ele quais foram os pecados que confessei no último domingo.

- Tudo bem- ela assentiu.

Alguns dias depois, ela procurou o homem para lhe dar o resultado.

- E aí, minha filha? Você se encontrou com Jesus?

- Sim.

- E o que ele respondeu? Ele lhe disse quais os pecados que confessei no domingo?

Então ela contou:

- Reverendo, as palavras dEle foram exatamente estas: eu não lembro.
...

Tenho uma amiga que há tempos não falava com o pai. A relação entre eles era muito complicada, principalmente porque ele sempre fora um pai ausente.

O Dia dos Pais para essa amiga era triste, era quando ela mais sentia falta do contato paterno e quando as lembranças negativas sobre seu pai vinham mais nítidas.

Um dia, um pastor lhe aconselhou a procurar o pai e perdoá-lo. Inicialmente, aquela proposta lhe pareceu impossível. Como perdoar alguém que lhe fez tanto mal?Alguém que não demonstrava qualquer interesse por sua vida? A essas questões, somava-se o medo de uma nova rejeição.

Então ela começou a orar a respeito e acabou indo ao encontro do pai. O pai recebeu-a com alegria, reconheceu que tinha errado e que estava disposto a tentar novamente.

Hoje eles se encontram de vez em quando e o Dia dos Pais para ambos é um dia feliz.

Perdoar é um grande desafio, um processo que se inicia com a decisão de nadar contra a maré de sentimentos e se desintoxicar de um veneno mortífero: o rancor.

O rancor imortaliza as cenas de agressão e as reprisa constantemente. Além disso, paralisa nossa disposição positiva em relação ao agressor e cria uma barreira invisível e inviolável que não consegue decifrar a mensagem: perdão.

Nos relacionamentos humanos não é incomum haver intrigas e dissensões. Quanto mais próximos, mais oportunidades para que tanto amor, como ódio se desenvolvam. Se pequenas palavras criam cicatrizes que parecem incorrigíveis, imagine grandes ataques.

Vaidade e orgulho devem ser desarraigados, pois seus frutos são amargos, e suas raízes destroem tudo que se levanta de bom naquele solo. Precisamos desativar os campos minados existentes em nossos corações, antes que as bombas explodam e acabem com tudo.

Precisamos aprender a amar como nosso Pai celeste.

Nós éramos escravos do pecado até que ele quebrou nossas algemas. Quando confessamos nossas agressões, Ele as lança no mar do esquecimento.

Só o Amor é capaz de fazer isso. Ele é a chave que, finalmente, destranca os cadeados e liberta de vez.

Deus nos ajude a perdoar, assim como Ele nos perdoa.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Gente boa também sofre

Algumas vezes já reclamaram do desfecho de um dos personagens do meu livro “A Terra dos Sonhos Mortos”.

É que (quase) todo mundo quer que as histórias tenham finais felizes... Que a mocinha se case com o príncipe, que os bons vençam, prosperem e nunca adoeçam... Que a morte seja reservada aos vilões, que só eles sofram as agruras da vida.

A ideia que predomina é a de que os bons só experimentam coisas maravilhosas. Por isso, diante da dificuldade, muitos pensam que estão sendo castigados por Deus, mas não é bem assim que as coisas funcionam.

Gente boa também se cansa, se chateia. Gente boa perde, tem dor de barriga e bolso apertado.

Bons ou ruins, não estamos livres das tempestades. Da mesma forma acontece com as benesses... Deus “faz com que o sol brilhe sobre os bons e sobre os maus e dá chuvas tanto para os que fazem o bem como para os que fazem o mal.” Mt 5. 45

Então, qual a vantagem de ser bom? E, afinal, quem é bom?

Se formos nos apegar ao sentido puro da palavra, só Jesus é bom. Mas quando nos identificamos com Cristo e o aceitamos como Senhor e Salvador de nossas vidas, somos lavados em seu sangue, justificados por Ele e apresentados igualmente puros. Ou seja, no sentido aqui colocado, a bondade não seria uma característica própria, personalíssima, mas um atributo atribuído àqueles que seguem a Jesus.

Ser um discípulo não significa estar livre dos sofrimentos, como prega a teologia da prosperidade. Às vezes, as lutas surgem até maiores. A diferença tem a ver com propósitos.
Há um registro bíblico (Jo 9) que ilustra bem essa questão.

“Jesus ia caminhando quando viu um homem que tinha nascido cego. Os seus discípulos perguntaram: - Mestre, por que este homem nasceu cego? Foi por causa dos pecados dele ou por causa dos pecados dos pais dele? Jesus respondeu: - Ele é cego, sim, mas não por causa dos pecados dele nem por causa dos pecados dos pais dele. É cego para que o poder de Deus se mostre nele. ”


Depois de ter dito essas palavras, Jesus curou o homem de sua cegueira e esse desenvolveu uma fé mais consistente. Mais tarde, quando questionado, aquele “ex” deficiente visual pode falar com segurança:

“- Desde que o mundo existe, nunca se ouviu dizer que alguém tivesse curado um cego de nascença. Se esse homem não fosse enviado por Deus, não teria podido fazer nada”.

Fé, paciência, perseverança, esperança. Quando Deus permite aos seus alguma difícil prova, há sempre algo bom por trás de tudo, pois a verdade é que Ele nos ama.

Ao longo de minha vida, conheci alguns homens e mulheres bons. Eles conviviam com os problemas reais a que todos estão expostos (violência, doença, dificuldade financeira, frustrações amorosas, etc), mas em seus olhos havia uma luz, uma esperança que sobrepujava todos os horrores.

O apóstolo Paulo passou por muitas lutas até aprender a ser feliz em toda e qualquer situação. É Ele quem nos incentiva:

“Não nos cansemos de fazer o bem. Pois, se não desanimarmos, chegará o tempo certo em que faremos a colheita. Portanto, sempre que pudermos, devemos fazer o bem a todos [...]”

Nossa confiança, aliada à fé, é que nos fará compreender os propósitos de cada tempestade.

Faço minhas as palavras de Brennan Manning “O amor de Cristo inspira a confiança de agradecer a Deus a dor-de-cabeça incômoda, a artrite tão dolorosa, a escuridão espiritual que nos envolve; de dizer como Jó: temos recebido o bem de Deus; não receberíamos o mal?”

Deus nos ajude!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Amanhã, o que será?

Você já preparou a roupa, programou o despertador, pensou em todas as suas atividades, sofreu ao repassar a rotina e lembrar todos os problemas a resolver.

Programou algumas saídas, alguns encontros...

A semana está só começando e parece que nunca vai acabar...

Mas hoje nada disso me interessa. Só quero saber:

Como está seu coração? Como está a sua alma?
...

Nesse último fim de semana, saímos do hotel. Agora estamos em um apartamento novo e arejado.

Mais uma vez, percorremos lojas de móveis para equiparmos o novo canto.

Como não sabemos quanto tempo vamos ficar por aqui, compramos apenas o básico, o essencial. Nada de peças sofisticadas ou acessórias.

Tantas mudanças têm nos feito compreender a brevidade desta vida e entender sobre prioridades.

De que adianta termos belos quadros nas paredes, se nos falta a geladeira ou a cama? Da mesma forma, de que adianta a riqueza material, se somos espiritualmente decadentes?

Há alguns meses, Lívio sonhou que ganhava alguns milhões na loteria. Ele, que nunca tinha jogado antes, resolveu tentar. Diante da simples expectativa de sairmos vencedores, fiquei eufórica ao pensar em quantas coisas poderíamos realizar. Os pensamentos foram evoluindo, evoluindo até me deixarem bastante preocupada. Conclui que eu não estava preparada para ser milionária assim de uma vez.

Nesta terra, tudo passa. No pouco tempo que tempos, resta a nós ter discernimento para priorizar o que realmente importa.

Não é à toa que Jesus nos deixou um alerta em Mc 8.34-38:

- “Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhe. Pois quem põe os seus próprios interesses em primeiro lugar nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo por minha causa e por causa do evangelho terá a vida verdadeira. O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira? Pois não há nada que possa pagar para ter de volta esta vida”.

Um dia seremos apenas lembrança no passado de alguém. O que deixaremos? O que levaremos?

Apenas permanecem o amor e o que os nossos olhos não podem contemplar.

Pare e pense.

Uma feliz semana pra vocês!