segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Ah, o amor!

Semana passada, postei o texto abaixo por um descuido no botão “publicar”. Depois “mais sem querer” ainda excluí-o, tendo que reformulá-lo quase todo, utilizando-me de partes esparsas que restaram no pc.

Por fim, Lívio me disse que tinha o texto original salvo em seu computador. Ufa!

Agora segue uma espécie de colcha de retalhos, como tantas vezes o amor pode parecer.
...

Estou lendo “Os Irmãos Karamázov”, do escritor russo Dostoiévski. Fiquei reflexiva ao me deparar com uma interessante distinção entre o amor contemplativo e o ativo:

“[...] O amor contemplativo anseia por uma proeza imediata, que possa ser rapidamente realizada e que todos vejam. E nisso chega efetivamente a ponto de sacrificar a vida, contanto que a coisa não demore muito e se realize bem depressa, como que no palco, para que todos a vejam e elogiem. Já o amor ativo é trabalho e autodomínio e, para quem o pratica, é talvez toda uma ciência. Contudo, predigo que no instante mesmo em que a senhora constatar horrorizada que, apesar de todos os seus esforços, não só não se aproximou da meta, mas até como que se afastou dela - nesse mesmo instante, predigo-lhe, a senhora atingirá de repente a meta e perceberá claramente pairando sobre si a força miraculosa do Senhor, que sempre a amou e sempre a guiou misteriosamente.” (2012, p.93)

Inevitável não pensar no esfriamento do sentimento por toda a parte, no palco em que se tornaram as redes sociais, em que é comum o amor contemplativo, mas o amor ativo raro.

Por aqui, cada um defende sua bandeira, com seu discurso de ódio, como que respaldados pelo amor. Eu espero por um amor real e que exista independente de estar registrado na Rede.

Quero encostar-me à janela e ouvir seu assovio, seguido de uma serenata e sussurros indecifráveis.

Encontrá-lo ali: simples e sorrateiro, sem anunciar aonde vai, nem a que veio.

Declarar-se virtualmente, ainda que com palavras irretocáveis, por si só não evidencia amor algum. Afinal, de que adianta uma declaração assim se em casa reinam os insultos e a indiferença?

A mãe até pode postar coisas bonitas na internet, mas são as horas escondidas em que passa velando a criança, orando por ela, cuidando de suas necessidades, a demonstração de amor efetivo.

O amigo mais chegado não é aquele que curte suas fotos e faz os mais inspirados comentários, mas aquele que aparece nas horas de horror e se alegra sinceramente por suas vitórias.

Nada contra declarações virtuais, pelo contrário. Só penso que as ideias e frases bonitas que espalhamos não têm efeito se dissociadas do que fazemos de verdade.

Tenho medo de discursos vazios, mais até do que silêncios inoportunos. Temo a leviandade com que se encaram os sentimentos, quando se chama de “amor” qualquer topada no escuro. Troca-se o sentimento por uma sensação e logo a sensação passa a ser vista como o próprio sentimento. Muda-se a essência para se crer em uma mentira. É aí que está o maior perigo.

Em tempos confusos, os frutos revelam a verdade. O amor contemplativo pode produzir canções e poemas belíssimos, mas o amor ativo gera obras inapagáveis. É bem verdade que também dá trabalho. A gente transpira, chora, cansa... Apesar de tudo, sempre vale à pena.

O amor ativo não busca prêmios, mas alcança as maiores realizações. Na verdade, “o amor não se orgulha”, “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”

Deus nos ajude a viver um amor ativo, daquele que nos aponta para o Amor maior.

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