quarta-feira, 25 de junho de 2014

Dando uma de esperto

Alguém metido a esperto pegou a contramão, desviou-se de um ou dois carros, encontrou um caminhão.

Alguém metido a esperto estacionou na vaga para deficientes, furou a fila do banco, embolsou moedas de um troco errado, disse pra mulher que ia ficar até tarde no trabalho pra tomar umas geladas com os amigos.

Metidos a esperto alagam o banheiro e deixam para o próximo resolver a confusão, não estudam nada pra prova e reservam a carteira atrás do gênio da turma, bolam os planos mais ousados pra se dar bem a custa dos outros.

E essa esperteza acaba redundando em delitos. Quantos estelionatários, quantos crimes contra a Administração! Os políticos corruptos que temos são só um reflexo de nossa sociedade igualmente corrupta.

Há um caso curioso envolvendo o grande jogador de futebol Gérson de Oliveira. Ele foi campeão do mundo pela Seleção Brasileira (em 1970) e atuou em importantes times como o Flamengo e o São Paulo Futebol Clube.

Apesar de sua proeminência futebolística, acabou notabilizando-se também por dar voz à frase conhecida por batizar o jeitinho brasileiro:

"Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica!"

Tais dizeres faziam parte de uma campanha publicitária de cigarro de 1976, estrelada pelo jogador, que, posteriormente, se arrependeu da graça. É que a repercussão negativa da propaganda foi grande e acabou surgindo a expressão popular “Lei de Gérson” como “sinônimo de levar vantagem acima de tudo, sem respeitar códigos éticos ou morais” (Felipe Araújo, disponível em http://www.infoescola.com/curiosidades/lei-de-gerson/).

Em tempos de Copa do mundo, o tema “jeitinho brasileiro” entra em pauta. O pior é que tem muita gente que se orgulha disso e acha que os estrangeiros é que são tapados.

Taxistas que mudam a rota pra encarecer a corrida, cobranças ilegais, preços que variam conforme a cara do comprador... Esses dias mesmo, o PROCON estava fiscalizando os táxis do aeroporto do Rio de Janeiro, diante de tantas denúncias que recebeu.

Num primeiro momento os metidos a esperto podem até se dar bem, mas a médio ou longo prazo acabam se complicando.

Educação, honestidade e respeito são riquezas inestimáveis. Que belo exemplo o Japão nos deu nesta Copa, quando seus torcedores só deixaram o estádio após recolher todo o lixo. O fato de ter perdido o jogo para a Costa do Marfim não foi desculpa para não fazer a sua parte.

Não faço coro com os pessimistas, acredito que o Brasil tem grandes potencialidades, penso até que temos mais pontos fortes do que falhas, mas precisamos mudar questões cruciais.

Eu "sou brasileira, com muito orgulho, com muito amor", mas tenho vergonha dessa pecha de espertalhão que nos acompanha (segundo alguns historiadores) desde a colonização.

Se quisermos ser levados a sério no cenário internacional, precisamos ser intolerantes com a corrupção e despedir de vez o tal jeitinho, investir em educação (não só a formal, mas a de casa).

Em geral, somos um povo alegre, hospitaleiro, que gosta de celebrar a vida. Que seja essa imagem festiva que os estrangeiros que nos visitam levem de nós!

Caso contrário, ainda que sejamos os melhores, sempre que vencermos vão dizer que não passou de armação.

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