quinta-feira, 24 de julho de 2014

Sobre meu bisavô

Só agora descobri a profissão do pai de meu avô Araújo. Ele era músico. Tocava sanfona. Fiquei empolgada ao saber que ele tinha alma de artista, principalmente quando disseram que era talentoso, mas eu nunca ouvi sua música.

Na verdade nem cheguei a ver sua imagem. Acredito que fosse alto como meu avô e tivesse rosto redondo e cabelo escasso na altura da testa. Mas pode ser que fosse bem diferente.

Acho que nem seus filhos saberiam descrevê-lo com tantos detalhes. É que meu bisavô deixou a esposa e as crianças e partiu para uma terra distante, onde formou uma nova família.

Sei que não é recomendável tocar em assuntos delicados assim, principalmente quando se trata de nossa própria família, algo tão intocado... Na verdade só estou refletindo sobre minha história, afinal pensar sobre meu bisavô é pensar sobre mim também.

Da própria árvore genealógica de Jesus não foram escondidos nenhum dos galhos. Porque da minha haveria de ser?!

Fiquei pensando como pode um estranho ser tão distante, mas ainda assim tão eu?! Querendo ou não, meu bisavô foi decisivo para o meu nascimento. Deus o escolheu para estar entre os meus e, mesmo que eu não o tenha conhecido, sou sua bisneta, seu sangue está em mim.

Outra reflexão que ficou: meu avô seguiu um caminho diametralmente oposto ao de seu pai. O fator sanguíneo não foi o senhor de suas escolhas. Vovô se tornou um homem dedicado aos filhos e à esposa, temente a Deus, pastor de almas.

E ainda outra: por mais intensa que tenha sido a vida de meu bisavô, com acertos e erros, palavras, melodias, seu tempo aqui passou. Apesar de uma grande geração de filhos, netos e bisnetos, não existe neste mundo alguém que nutra por ele algo além de memória e respeito.

E essa poderá ser a minha história. Um dia (se Jesus não tiver voltado), por mais que eu tenha realizado alguma coisa nesta terra, serei apenas um personagem para minhas bisnetas. Uma ficção como os contos de fada, mas sem o mesmo encanto.
Elas me conhecerão de ouvir falar e não de fato. Talvez meus escritos (se alguém os guardar até lá) lhes deem um pouco mais de elementos para dizerem: ela era desse ou daquele jeito, mas ainda assim não saberão a minha voz, minhas feições alegres ou tristes...

É essa reflexão que o salmista faz:

“A nossa vida é como a grama; cresce e floresce como a flor do campo. Aí o vento sopra, a flor desaparece, e nunca mais ninguém a vê.” Sl 103.15 e 16

Parece trágico. Se nossa vida se limitasse a esta, de fato, seria; mas há algo além, algo a mais, que permanece. Isso é o que me enche de alegria e esperança.

“Mas o amor de Deus, o Senhor, por aqueles que o temem dura para sempre. A sua bondade permanece, passando de pais a filhos, para aqueles que guardam a sua aliança e obedecem fielmente aos seus mandamentos.” Sl 103.17 e 18.

Aleluia!

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