terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O que dar de presente

Eu lhe daria o presente mais caro e mais bonito.

Pintaria sua casa com muitos detalhes e a encheria com obras de arte raras.

Amarraria estrelas no corrimão e a lua na janela.

Plantaria árvores frondosas e poria ali uma rede, um balanço e um bordão.

E você nem precisaria fazer muita coisa, me contentaria com seu sorriso sincero, a boca cheia de dentes e os olhos quase fechados, o semblante de paz e a alegria de uma criança.

Ouviria conversas do homem da cobra e guardaria uma a uma de suas lágrimas. Cada pedaço de vida e energia não seria apagada.

Em troca, eu nem exigiria o céu aberto, o jardim mais verde, bastaria o tempo esperando a gente conversar sossegado.

Escolheria minhas melhores palavras e lhe pouparia de tanta asneira. Em cada sílaba um sopro de vida, um pouco de calor.

...

Desculpe-me. Preciso começar.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Tempo ao tempo

Diante de tantos ruídos, busco o silêncio. Um lugar quieto, arejado, povoado apenas pelos bons pensamentos.

Preciso descansar, mas minha alma tem pressa. Quer percorrer todo o mundo. Mergulha em tantas conjecturas, tenta resolver conflitos até que descubro que tenho apenas duas pernas.

A agitação da cidade, os sonhos, as possibilidades, as conversas, relacionamentos ativam minha mente e, às vezes, não me deixam parar.

Sempre que vou a São Paulo sinto isso mais intensamente. Experimento o ritmo urbano, a cidade que não para e, quando chega a noite, fico pensando em tantas coisas que estão acontecendo e eu ali tão estática em um hotel.

Até que meu sogro vem e me diz:

- Vá dormir, minha filha. Amanhã a gente continua. Você precisa parar.

Estico as pernas, fecho os olhos, mas continuo funcionando... rsrs

Essa vitalidade, esse anseio pelo que virá; sonhos, desejos que não cabem no tempo são marcas da juventude. Um dia virá a maturidade e com ela (espero) a serenidade.

Devemos aproveitar o que há de bom em cada fase.

“Alegre-se, jovem, na sua mocidade! Seja feliz o seu coração nos dias da sua juventude! Siga por onde seu coração mandar, até onde a sua vista alcançar; mas saiba que por todas essas coisas Deus o trará a julgamento. Afaste do coração a ansiedade e acabe com o sofrimento do seu corpo, pois a juventude e o vigor são passageiros”. Ec 11:9-10

Em todas as etapas tenho as palavras. Nelas encontro um refúgio, onde deposito parte de minhas energias, onde reflito pra então tirar arestas e seguir mais leve.

Em todo o tempo tenho um Deus amigo, que me mantém em equilíbrio e me ajuda a avançar.

Um dia, se Deus permitir, serei uma velhinha (enxuta, rsrs) e poderei , enfim, dizer:

“Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda”. 2 Tm 4:7-8

domingo, 8 de dezembro de 2013

Sopro de vida

Eu queria chorar, mas me contive, como quase sempre faço.

O mundo talvez não entenda reações tão infrequentes.

Quis dançar, mas o que diriam de meus passos desconexos?! Então permaneci a mesma estátua.

O que há dentro? O que devo mostrar?

Minhas palavras revelam quem sou, porém muitas são as vezes em que eu as calo, confinando-as em uma masmorra. E então silencio, cruzo os braços, mesmo quando queria gritar.
...

Uma de minhas músicas preferidas traz uma homenagem ao grande escritor cristão C.S. Lewis. Há um trecho que sempre me marca profundamente:

“Porque nós não estamos por aqui por muito tempo. Nosso tempo é apenas um fôlego. Então é melhor respirá-lo. E eu fui feita para viver, para amar, para conhecê-lo.” (Brooke Fraser, C.S. Lewis Song)

Nosso tempo é curto, mas vivemos como se fôssemos viver aqui para sempre. Agarramo-nos às conquistas materiais, nos entregamos ao comodismo e deixamos a vida com suas pessoas passar, passar, simplesmente passar.

O que tenho feito?! O que você tem feito?! Cada um de nós é único, mas onde estão nossas proezas? O que temos a entregar?

Tenho visto poucas coisas realmente especiais. Poucos buscam a excelência, poucos imprimem a originalidade que Deus lhes deu ainda na madre.

Nunca se falou tanto em diferenças, nunca vi tanta mesmice.

Rostos mascarados, vozes caladas, “marias vai com as outras”.

A espiral do silêncio segue. Queria conhecê-lo por dentro. Você não é seu cabelo colorido, nem sua pele desenhada, nem suas fotos postadas no Face...

O que tem além da pele? Experiências boas e ruins, traumas, medos e muita, muita coisa que veio com sua digital exclusiva...

Quero poder dizer de verdade: prazer em conhecê-lo!
...

O tempo está acabando... Às vezes, me perco em comentários que não me levarão a lugar algum. Murmurar é uma grande perda de tempo. Concentrar-se no que não se tem também é.

Preciso respirar. Amar. Conhecer aquele que me criou. Só assim entenderei a razão para a qual fui criada.

Não fomos projetados para viver à toa. Se você veio é porque tinha algo a desempenhar neste mundo. E aí, o que está esperando?

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Mundo louco

O que fizemos com nossas crianças?! Agora a onda é “sensualizar” na internet. Começou com a moda de fotografar poses sensuais em frente ao espelho e ninguém sabe aonde vai chegar...

Antes a meninada não tinha ipads ou laptops, não mergulhava na rede, não tinha dedos familiarizados com touch screen, nem sonhava com relacionamentos virtuais, mas brincava de peão e de boneca, no quintal ou na sala, debaixo de nossos olhos e saias, segurando as mãos e tentando descobrir o que existia no fim do arco-íris.

Apesar de pequenos, seus mundos eram verdadeiros. Ali mesmo vivenciavam grandes aventuras. O futebol na calçada, o esconde-esconde, o pega-pega, a caça ao tesouro. Vez por outra, se beliscavam, gritavam “maiê, olha ele!” e resolviam seus pequenos dilemas da infância.

As brincadeiras seguiam a leveza de suas idades, as nuanças da imaginação...

Não lhes outorgávamos uma posição maior, nem menor. Eram crianças na medida exata da palavra, livres de grandes responsabilidades e sujeitas a autoridade dos pais.

Havia tempo para conversar com elas e lhes contar histórias e outras coisas, mas no diálogo filho sabia que era filho, pai sabia que era pai.

Nada de inversões, relativismos, nem cobranças descabidas. Respeitavam-se as experiências e as idades, cada acontecimento a seu tempo.

Hoje se esqueceu da simplicidade das coisas.

Está tudo muito confuso. Antes o armário era apenas um móvel na casa. Lembro de uma vez que meu irmão trancou um coleguinha dele dentro do guarda-roupa e perdeu a chave. Minha mãe ficou desesperada. Já prestes a arrombar a porta, finalmente conseguiu libertar o garotinho.

Agora estar dentro ou fora do armário tem outra conotação. Nada mais é óbvio, homem não é homem, nem menino é menino... Prevalece a máxima: ninguém é de ninguém.

Fala-se na preservação dos mares, rios, ares, mas não há quem levante a bandeira da preservação da alma infantil, da inocência própria dos pequenos.

Não há regras, nem moderados. O que me lembra um poeminha que escrevi ainda na infância:

“Se um dia eu encontrar uma laranja em um pé de coco
Não me assustarei nenhum um pouco
Pois o mundo está louco”...

Se antes eu encarava a loucura do mundo com a espontaneidade de uma criança, atualmente estou assustada.

Dia após dia, chega até nós as mais escabrosas histórias que revelam um ser humano evoluído, em termos tecnológicos, mas cada vez mais distante de alcançar o propósito para o qual foi criado.

Tantos casos de pornografia infantil, revenge porn (vingança pornô)... Os androides se tornaram armas apontadas e fazem vítimas a todo instante.

O Big Brother é a herança do povo e há uma procura grande por aplicativos como o Lulu (aquele em que as mulheres dão notas aos homens de suas redes sociais).

As orgias deixam as caladas da noite e aparecem a qualquer hora do dia nas telas dos computadores e nos celulares mais variados...

As crianças estão lá. E os pais, onde estão?

Crianças precisam de proteção e é nosso papel defendê-las. Omitir-se é uma forma de agressão. O que seu filho anda vendo na TV, por quais sites ele navega, o que carrega na mochila, quem são suas companhias, sobre o que conversa?

Quando se trata de criança, tais medidas não são invasão de privacidade, pelo contrário, é preservação, zelo, amor.

Fechar a porta da casa e escancarar a janela para o mundo (sem qualquer tela de proteção) é uma incoerência.

Imponha limites, converse, dedique tempo, ensine valores, lute por seus pequenos hoje! Amanhã pode ser tarde demais.