Cicatrizes

“Quem jamais foi ferido zomba de cicatrizes”. William Shakespeare

Ainda hoje trago marcas de minhas primeiras quedas de bicicleta. Lembro-me de meus seis, sete anos de idade, quando chegava a casa com os joelhos ensanguentados. Meu maior temor era aquele remédio ardido que mamãe passava.

Na mesma época, sofri bullying na escola. Eu demorava a dormir à noite, com medo das ameaças que sofria durante o dia, mas não falava sobre isso com ninguém por medo de novas agressões.

Depois de alguns meses, mamãe percebeu que algo não estava bem e me transferiu de colégio.

As cicatrizes dessas agressões devem estar em algum lugar de minha alma. Apesar de invisíveis, provocaram uma dor mais lancinante que qualquer queda de bicicleta.

Hoje conjecturo que isso tenha contribuído para que eu me tornasse uma garota tímida na maior parte de minha vida escolar.

Lembro-me de uma aula de português da qual quis participar e expor alguma ideia, mas fiquei travada com vergonha da exposição pública. Naquele dia, pensei:

- Se um dia eu me tornar alguém que tem voz, enfrenta auditórios e grupos variados, vou estimular a todos que, como eu, um dia viveram atemorizados. Vou dizer-lhes: eu venci, vocês também podem vencer.

Ainda no campo das cogitações, penso que minha fraqueza infantil tenha me ajudado a compreender, em alguns momentos, os fracos como eu.

Os golpes da vida nos tornam mais sensíveis aos feridos.

Jesus sabia disso. Veio como homem e sofreu os piores golpes, as maiores tormentas, as dores mais agudas.

Ele nasceu como um sem teto, em meio a vacas e jumentos. Cresceu e foi humilhado, perseguido até se vê diante de um Tribunal corrupto que decretou a pena mais cruel.

Coberto de chagas e acusações, ele expirou. Seus últimos momentos foram da mais extrema dor.
Por tudo isso, Ele tem autoridade pra dizer:

“[...] no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.
Jo 16:33

Sejam quais forem as suas feridas, Jesus conhece-as de cor. Ele venceu, você também vencerá.